terça-feira, 28 de setembro de 2010

Um disco / R.E.M.


O ano era 1996, e o R.E.M. vinha de uma turnê de Monster, seu álbum mais pesado e sujo do que o antecessor Automatic for the people - esse, mais melancólico e bem menos pop que o(ufa) ainda anterior: a explosão pop Out of time, do hit Losing my Religion. As variações sonoras, no entanto, resultaram naquele que, pra mim, é um dos discos mais completos do quarteto de Athens. Enquanto excursionavam pelo mundo, Michael Stipe & Cia foram gravando músicas em cada canto, em passagens de som de diversos palcos do planeta para resultar no excelente New Adventures in Hi-fi, nossa indicação no UM DISCO de hoje.

Inversamente proporcional à sua qualidade, foi lançado sem alarde, quase como sobra de estúdio no final do ano, em setembro de 2006. E para quem acompanhava a banda ao menos nos três últimos álbuns, a estranheza inicial se transforma num prazer de "já escutei esse som antes". Não é verdade. Esse prazer logo se transforma em certeza de que ali estão faixas brilhantes de tão novas, feitas no calor da turnê que passava por várias fases musicias.

O disco abre denso e intimista com a longa (inclusive no nome) How the west was won and where we got us, numa batida firme e contida do baterista Bill Berry, acompanhado dos teclados de Mike Mills e da voz rouca de Stipe. Peter Buck, o guitarrista, praticamente não aparece. Quando você acha que o disco será um retorno à calmaria - depois das guitarras sujas do disco anterior, surge Wake-up bomb, um petardo pra fazer acordar pro restante das músicas. E funciona muito bem. Um rock rápido, sujo e certeiro - Buck acorda junto e sua guitarra marca ponto em todas as partituras. Depois dela, uma montanha-russa musical é apresentada, variando entre os modelos apresentados pela banda ao longo dos anos - por isso citei o "completo" lá em cima, lembram? New test leper inicia com violões e vai crescendo, enquanto Undertow se apresenta com grunhidos e lenta até o ganho vocal tomar por completa a audição. E-bow the letter, linda canção declamada em poesia tem a participação perfeita de Patti Smith no refrão, e foi utilizada como carro chefe no lançamento (ainda que discreto) do disco pela Warner. Difícil missão num álbum assim.

De um disco único como esse, é complicado escolher a preferida - aliás, isso é horrível de se fazer em qualquer disco, a não ser quando é ruim. Como aqui o caso é o contrário, Leave é uma das minhas favoritas do álbum, enganando o ouvinte com seu longo solo inicial de capela para estourar uma sirene (!) e assustar o suficiente para impressionar o mais desavisado, como eu, na primeira vez que ouvi. Mas espere, eu não consigo deixar uma só como favorita, elencarei mais duas:  Be mine, a canção romântica improvável - e à frente do seu tempo -, tocada somente com guitarras em sua maioria, e no lirismo da letra uma sugestão moderna como poucas canções até hoje; e Electrolite, talvez a mais pop, carrega um não-sei-o-quê de bem-estar que é impossível não gostar dela. Com direito a violino, de letra simples e teclados competentes que beiram o simplório, os vocais de Stipe e dos backings é que fazem o clima bom ser aspirado - e encerra o disco com aquela vontade de ouvir tudo de novo. Funciona. Tenho ele há 15 anos e não me canso de ouvir. Aliás, já está na hora.

Luciano Seade



R.E.M.
New Adventures in H-Fi

1) How the West Was Won and Where It Got Us
2) The Wake-Up Bomb
3) New Test Leper
4) Undertow
5) E-Bow the Letter
6) Leave
7) Departure
8) Bittersweet Me
9) Be Mine
10) Binky the Doormat
11) Zither
12) So Fast, So Numb
13) Low Desert
14) Electrolite
 .

Nenhum comentário:

Postar um comentário